Saúde, condicionamento e equilíbrio físico e mental
EDUCAÇÃO FÍSICA
JOGOS OLÍMPICOS DA ANTIGUIDADE
Origens
Existem várias lendas sobre o nascimento dos Jogos Olímpicos, mas nenhuma explica suas verdadeiras origens. Sabe-se apenas que as competições tinham um caráter sagrado. A cidade de Olímpia, onde eram realizados os Jogos, era considerada um local mítico, que conferia imortalidade aos vencedores, por isso acredita-se que as Olimpíadas nasceram como competições que acompanhavam os funerais dos heróis. Os jogos fúnebres com os quais Aquiles honrou Pátroclo na Ilíada reuniram arqueiros, lançadores de dardos, corredores e lutadores. Os Jogos Olímpicos, portanto, teriam sido originalmente jogos funerários celebrados em honra de Pélope, rei mítico da região do Peloponeso, antes de serem consagrados a Zeus.
Se, de acordo com uma das lendas, o rei Ifitos de Élida fundou os jogos em 884 a.C., as Olimpíadas passaram a ser contadas oficialmente só a partir de 776 a.C., quando havia apenas uma prova: a corrida do estádio (cerca de 200 metros), que era disputada ao pé do monte Kronion.
Naquela época, participavam nos Jogos apenas os habitantes de Pisa e de Élis, cidades da região de Élida, onde ficava Olímpia. Mais tarde, as cidades da região do Peloponeso, entre as quais Esparta, começaram a enviar seus atletas para Élida. O primeiro espartano sagrou-se vencedor em 720 a.C. Logo, 5 ou 6 milhões de gregos assistiam aos jogos. No final do século V a.C., o sofista Hípias de Élis publicou uma lista de campeões. Atualmente, graças à lista do papiro de Oxirrinco, são conhecidos 921 dos 4.237 vencedores.
Durante os Jogos era proclamada uma trégua geral, e todos os combates entre gregos deviam cessar. Nenhum exército podia pisar o solo de Olímpia. Também era proibido impedir os atletas de participar das provas. Os Jogos se transformavam então no símbolo da luta entre as cidades pela via pacífica.
Assim como hoje, os Jogos Olímpicos eram inaugurados por uma grande cerimónia de abertura, quando os atletas chegavam a Olímpia, vindos de Élis, ao fim de dois dias de caminhada. Sob as árvores do bosque sagrado de Altis eram expostas as estátuas dos vencedores anteriores, de bronze, mármore e ouro.
Inicialmente, o festival durava apenas um dia. A festa foi crescendo, e, em 520 a.C., o programa dos Jogos Olímpicos já tinha adquirido sua forma definitiva. - O primeiro dia era dedicado às cerimónias;
- O segundo, às provas eliminatórias de corrida a pé: a prova do estádio (cerca de 200 metros), o diaulos (prova de dois estádios, cerca de 400 metros) e o daulichos (a corrida de longa distância, de cerca de 4.700 metros). Quarenta mil espectadores acomodavam-se nas arquibancadas para assistir às competições.
- O terceiro dia era reservado ao pentatlo, série de cinco provas, cada uma de uma modalidade diferente: lançamento de disco, lançamento de dardo, salto em distância, corrida do estádio e luta grega. Ganhava o pentatlo quem vencesse três das cinco provas.
- No quarto dia era a vez das competições de luta grega, pugilato (ancestral do boxe) e pancrácio, a prova mais mortífera, em que tudo era permitido, com exceção de golpes nos olhos.
- No quinto dia eram realizadas as finais das corridas a pé.
- O sexto dia era dominado pelas corridas de cavalos, que incluíam tanto as provas em que um jóquei montava o animal quanto as competições de carros – bigas, quando eram puxados por dois cavalos, e quadrigas, movidos por quatro animais.
- No sétimo dia, realizavam-se as cerimónias de encerramento. Um cortejo descia do Altis, formado pelos juízes, pelos vencedores das provas, pelas autoridades de Élis e de Olímpia e pelas delegações, seguidos pelas estátuas dos deuses carregadas ao som de flautas e cânticos. O arauto anunciava o nome, a pátria e o desempenho dos vencedores diante de uma estátua de Zeus. Os juízes entregavam-lhe uma coroa de ramos entrançados da oliveira silvestre trazida por Hércules do país dos Hiperbóreos. Hecatombes (sacrifício de 100 animais) eram oferecidas a Zeus. Um banquete reunia os membros do senado, os vencedores e as personalidades. Os olimpiónicos (participantes dos jogos) ofereciam sacrifícios.
Modalidades Atléticas
- CORRIDA A PÉ (drómos)
Os gregos praticavam as seguintes modalidades de corrida a pé:
- Corrida simples ou “stádion”. É a corrida de velocidade propriamente dita, devendo o atleta percorrer uma única vez a pista do estádio, que media 192 m.
- Corrida dupla ou “díaulos”. O atleta percorria duas vezes a pista do estádio.
- Corrida de fundo ou “dólikhos”. Nessa corrida, o percurso variava de 7 a 24 estádios, podendo somar, portanto, mais de 4 km.
- Corrida com armas ou “hoplitodromía”. Tendo como percurso dois ou quatro estádios, essa prova era disputada por corredores armados com a hopla, isto é, o armamento do hoplita (soldado de infantaria pesada), que se equipava de escudo, capacete e perneiras. Segundo a tradição, essa modalidade de corrida teria sido inspirada no anúncio de uma grande vitória proclamado por um hoplita.
- Corrida com tocha ou “lampadedromía”. Embora não estivesse incluída entre as provas dos quatro grandes jogos atléticos da Grécia, essa competição, muito famosa em diversas festas religiosas, sobretudo nas festas atenienses em honra da deusa Atena, era uma prova de corrida com revezamento, disputada por cinco grupos de 40 cidadãos cada um. Em Atenas os corredores percorriam um caminho de 1000 metros, da muralha da acrópole ao altar de Prometeu na periferia da cidade. Postados a uma distância de 25 metros um do outro, o desafio era correr com uma tocha acesa e passá-la ao companheiro de revezamento sem que ela se apagasse. A vitória pertencia ao grupo cujo último corredor chegasse primeiro ao altar com a tocha acesa.
Os corredores eram distribuídos por categorias de acordo com a idade. A corrida de fundo e a hoplitodromia só eram disputadas por homens adultos. Os atletas disputavam as provas de corrida (com exceção da hoplitodromia) inteiramente nus, com o corpo untado de óleo. O treinamento era realizado nos estádios dos ginásios. Para melhorar o desempenho, eram orientados a correr em terreno recoberto de areia ou, então, a correr com as pernas fletidas para o fortalecimento dos músculos. As imagens conservadas nos vasos mostram que a postura dos atletas diferia, conforme se tratasse de corrida de velocidade ou de corrida de fundo. Os corredores de velocidade mantinham o tronco reto e imprimiam aos braços alongados um balanceio, para acelerar o passo. Já os corredores fundistas mantinham os braços dobrados, junto ao corpo, e inclinavam levemente o tronco para a frente.
Nas provas, os competidores se alinhavam em série de 5 ou 6 no máximo. Aguardavam em pé o sinal de largada, com o dorso projetado para a frente e os pés bem juntos um do outro. Se houvesse um grande número de corredores, eles eram distribuídos em séries, por sorteio, e os vencedores de cada uma das séries competiam, a seguir, entre si.
LANÇAMENTO DE DISCO (dískos) e DE DARDO (ákon)
É uma modalidade muito antiga, documentada em relatos míticos. Nas competições, o peso do disco variava conforme a categoria, cujos critérios de classificação eram a força e o peso dos atletas. Os discos, inicialmente de pedra e depois de metal, eram redondos, chatos e bem polidos. Pesavam em média 5 quilos e tinham 21 cm de diâmetro. Para torná-los mais aderentes às mãos, era permitido gravar neles círculos ou figuras. O lançamento era feito de um ponto determinado e o local onde o disco caía era marcado com uma estaca, para confrontar-se os diferentes resultados. Vencia a competição quem lançasse mais longe. Há um recorde registrado de 29,28 m de distância.
O dardo, arma corrente na caça e na guerra, media aproximadamente 1,70 m e era da grossura de um dedo, mas o usado nas práticas esportivas e nas competições não tinha ponta, a fim de evitar-se acidentes. Além disso, o dardo possuía um lastro na extremidade e, no seu centro de gravidade, um propulsor em forma de cordão de couro de aproximadamente quarenta centímetros. Esse cordão era enrolado ao longo do cabo e terminava por um anel, no qual o atleta introduzia o dedo indicador. Ao ser ativado, o propulsor imprimia ao dardo um movimento de rotação, potencializando seu alcance. Algumas pinturas de vasos sugerem também que o dardo podia ser usado numa prática de “tiro ao alvo”: traçava-se um círculo, à distância desejada, devendo o atleta fazer o dardo cair dentro dele.
LUTA (pále) e PUGILATO (pýgme)
Na luta, o atleta visava a levar o adversário a tocar os dois ombros no chão. Era proibido dar pontapés e socos, devendo os lutadores atuar com as mãos abertas. As pinturas dos vasos nos ensinam que combate se desenvolvia em duas fases: primeiro, luta-se em pé, fazendo-se uso de táticas, como pegadas nos punhos ou nas pernas e braços, com a finalidade de derrubar o adversário; a seguir, lutava-se no chão, buscando-se fazer o corpo do adversário ou seus ombros encontrarem o chão. A adequação dos movimentos às regras era fiscalizada por árbitros, representados nos vasos com bastões. Dos praticantes dessa modalidade exigia-se bom fôlego, vigor físico e peso. Os atletas faziam um regime de super-alimentação. Como exercícios de treinamento, carregavam fardos, torciam ferro, puxavam arado e domavam bezerros, para aumentar a musculatura. Para o fôlego, apostavam corridas com cavalos.
No atletismo, a luta era considerada um dos exercícios mais perfeitos para o desenvolvimento corporal. O lutador mais famoso foi Milos de Crotona, que venceu 6 vezes em Delfos e 6 vezes em Olímpia.
O pugilato, contemplado em todos os jogos, é muito antigo, encontrando-se representado na arte cretense e na Ilíada. É considerada criação de Teseu, o herói ateniense que matou o Minotauro, na ilha de Creta. A luta era com golpes de punho, muito parecido com o boxe: os competidores protegiam as mãos com faixas de pele de boi, de mais ou menos 2 metros, enroladas nas mãos o mais apertado possível e presas nos pulsos por um sistema de correias. Essa faixa, chamada “cesto”, era às vezes reforçada com bolas de metal ou pregos, o que a tornava mais parecida com o soco inglês do que com as nossas luvas de boxe.
O treinamento era semelhante ao atual. Os atletas golpeavam um odre (saco feito de pele de boi) inflado. Exercitavam-se também em movimentos de ataque e defesa e, nas representações, aparecem sempre nas pontas dos pés, o que nos faz pensar que saltitavam durante os movimentos da luta. O corpo a corpo era proibido. Nenhum golpe podia ser desferido com a intenção de matar. A luta se desenrolava em várias lances e terminava quando um dos competidores já não tinha mais condições físicas ou quando, levantando o braço, dava-se por vencido.
OUTRAS MODALIDADES
Na prova de salto em extensão (pédema), os atletas, para conseguir impulso, usavamhalteres, peças de ferro ou de chumbo, cujo peso variava de 1 a 5 quilos, de forma hemisférica com encaixe para as mãos ou, como os halteres modernos, compostos de duas peças esféricas unidas por uma barra curva. Há registros de saltos de 17 metros de extensão; tratava-se, sem dúvida, de saltos múltiplos. Fora dos concursos, os gregos praticavam saltos com auxílio de varas e também de trampolins.
No pentatlo (péntatlhon) o atleta disputava 5 modalidades: salto, lançamento de dardo, de disco, corrida e luta (às vezes salto e disco são substituídos por pugilato e pancrácio). Quanto à classificação, os concorrentes eram eliminados progressivamente. Só participavam da luta final os dois concorrentes que tivessem apresentado o melhor desempenho nas provas anteriores.
A corrida de carros era o mais importante concurso equestre e também o mais aristocrático: só os muito abastados é que tinham recursos para custear a manutenção de carros e a criação dos cavalos. Diferia pela quantidade de cavalos atrelados: dois ou quatro (bigas e quadrigas). Além de bons equipamentos, o atleta precisava ter destreza para conduzir carros em terrenos irregulares, sobretudo para realizar a conversão nas curvas sem sofrer acidentes. Com o tempo melhoraram-se os terrenos, aplainando-os, o que tornou mais rápidas as provas e, conseqüentemente, mais técnicas.
O hipismo era menos prestigiado que as corridas de carro. Nas Olimpíadas essa modalidade só aparece após a 33ª, em 648 a.C. As provas visavam testar a capacidade do cavaleiro: devia manejar a lança montando o cavalo ou montar sem estribos ou então carregando uma tocha. Levavam em conta, também, a idade do cavalo: cavalos de três anos e cavalos mais velhos.
A Degeneração do ideal Olímpico
Tudo o que faz a glória e a vergonha do desporto no século XXI já existia na Grécia antiga: treino intensivo, dietas, transferências de clubes, profissionalismo, semiprofissionalismo, amadorismo e doping.
O dinheiro, claro, também estava presente. Desde que os Jogos Olímpicos passaram a ser organizados oficialmente, os atletas foram remunerados. Quando se tornaram disputas entre as cidades, nas quais o prestígio nacional ou local estava em jogo, as autoridades passaram a patrocinar seus representantes. Mantinham colégios de atletas e, quando não conseguiam formar nenhum campeão, compravam um no estrangeiro.
Em Atenas, em 580 a.C., Sólon promulgou uma lei que estipulava um prémio de 500 dracmas para cada cidadão que vencesse as Olimpíadas. Como um carneiro valia aproximadamente uma dracma, essa quantia era considerável. Sem contar que os campeões adquiriam status e privilégios, como a dispensa de pagar impostos.
Inicialmente reinava uma louvável concorrência entre amadores desinteressados. Com o tempo, porém, a ambição das cidades fez com que as autoridades passassem a pressionar seus atletas a vencer. Os desportistas começaram então a treinar em tempo integral e a especializar-se numa modalidade para aumentar suas chances de sucesso, contrariando o ideal do atleta homérico, que deveria ser um homem completo.
Reunidos em diferentes corporações de acordo com a modalidade que praticavam, todos os desportistas seguiam uma dieta específica. Os lutadores eram submetidos a uma perigosa superalimentação. Já o corredor Astilo de Crotona, pelo contrário, preconizava uma dieta mais leve. Treinadores famosos, como Ico de Tarento no século IV a.C., prescreviam tratamentos científicos e médicos para os competidores.
Seguindo o exemplo de Atenas, outras cidades começaram a oferecer aos seus campeões a soma considerável de 5 talentos (um talento valia 6 mil dracmas). O atleta laureado era sustentado pelo resto da vida pela cidade e podia receber uma renda mensal de até 200 dracmas.Os valores das premiações transformaram o espírito dos jogos. Os próprios atletas vendiam-se a quem pagasse mais. O cretense Sotades, que venceu a corrida de daulichos (4.700 metros) nos 99º Jogos Olímpicos (384 a.C.), aceitou correr pela cidade de Éfeso quatro anos mais tarde. Os cretenses puniram-no e exilaram-no. Astilo de Crotona, cidade habituada a conquistar a maior parte dos prémios olímpicos, ganhou, em 488 a.C., a corrida do estádio (cerca de 200 metros) e o diaulos (prova de 400 metros) e apresentou-se nos jogos seguintes como cidadão de Siracusa. Diante do desenvolvimento do profissionalismo, as escolas de desporto e os ginásios multiplicaram-se nas cidades. Os pedótribas (professores de educação física) recrutavam garotos a partir dos 12 anos.
Esses treinadores particulares, às vezes ex-atletas, eram cada vez mais bem remunerados. Dessa forma, Hippomachos cobrava 100 dracmas por aula. Os atletas eram cuidadosamente selecionados e estavam dispostos a tudo para conquistar o título de periodonico, o vencedor dos Jogos Olímpicos. Assim, em 388 a.C., durante a 98ª Olimpíada, constatou-se o primeiro caso de corrupção: o boxeur Eupolos comprou três adversários, entre os quais o detentor do título. O senado de Olímpia impôs uma multa aos quatro homens e, com a quantia obtida, mandou erigir seis estátuas de bronze de Zeus, que foram dispostas no bosque sagrado de Altis. Em 332 a.C., um atleta ateniense, Calipo, também subornou seus adversários. Como se recusaram a pagar a multa, todos os atenienses foram excluídos dos jogos.
Decadência dos Jogos
A história dos Jogos Olímpicos acompanhou a evolução política da Grécia antiga. Depois de viver seu auge na primeira metade do século V a.C., quando a aliança entre Esparta e Atenas contra os persas (481-479 a.C.) deu certa unidade ao mundo grego, o festival começou a entrar em decadência no momento em que as duas cidades-Estado passaram a se enfrentar na Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), o que culminou com a expulsão de Esparta dos jogos em 420 a.C.
Desse momento em diante, Olímpia se tornou alvo das guerras entre as cidades gregas, o que fez com que em 365 a.C. os habitantes de Élis interrompessem a cronologia tradicional nos 104º Jogos Olímpicos.
No século III a.C., Olímpia foi conquistada pelos romanos, que começaram a participar nos jogos. No século I d.C., até imperadores como Tibério e Nero estiveram entre os competidores. Este último, aliás, mandou jogar as estátuas dos antigos campeões em latrinas para apagá-los da história.
Com o domínio romano, no século II a.C., a cultura e os costumes helénicos, entre os quais a tradição dos jogos, foram sendo assimilados pelos romanos. No entanto, as competições entraram em permanente e contínua decadência, por diversos motivos.
O principal foi o próprio temperamento do povo romano, que não cultivava o desporto com um espírito, quase religioso, como os gregos. Os romanos, na verdade, preferiam o circo aos torneios atléticos. No tempo de Augusto, já havia 21 circos em Roma. Esse total triplicaria nas duas décadas seguintes, enquanto que os ginásios entravam em declínio.
Para os romanos, os jogos olímpicos não passavam de inofensivos e insípidos meios sesportivos, que pouco a pouco foram perdendo o interesse.